Com design marcante, suspensões de
longo curso e motor amigável, Kawasaki Versys é mais uma opção no segmento de
600cc
Quando foi lançada em 2006,
a Kawasaki Versys era classificada pela fábrica japonesa
como uma motocicleta “dual purpose”, ou seja, de uso misto. Juntamente com a
renovação visual para o modelo 2010, que desembarcou em junho no Brasil, a
Versys foi elevada à categoria “sport” nos Estados Unidos. Mesmo assim a nova
classificação não faz jus ao seu caráter versátil. A Versys traz elementos de
motos esportivas, aventureiras e de uso misto, compartilhando características
de cada um desses segmentos, mas sem se enquadrar perfeitamente em nenhum
deles.
Equipada com um motor de dois cilindros paralelos de 649 cm³, a Kawasaki
Versys tem em seus múltiplos usos a principal arma para brigar no concorrido
segmento de motocicletas de 600 cc, que tem concentrado a maior parte dos
lançamentos nos últimos meses. Da linha Yamaha XJ6 (N e F), apresentada no
início de 2010, a
BMW G650GS, o mercado está em busca do motociclista que quer evoluir sem
exageros: pretende sair da faixa de 250 cc, mas não pode (e muitas vezes nem
precisa) chegar aos modelos de 1.000 cc.
Motor elástico
A Kawasaki Versys compartilha o mesmo motor da naked ER-6n (também à
venda no Brasil) e da esportiva Ninja 650R. Os dois cilindros paralelos com 649
cm³ de capacidade, quatro válvulas por cilindro e duplo comando no cabeçote
(DOHC), são alimentados por injeção eletrônica e contam com refrigeração
líquida.
Para a Versys, o bicilíndrico foi afinado para oferecer mais torque em
médias rotações. Mudanças muito bem vindas. Fica no meio termo entre os
“torcudos” monocilíndricos e os potentes motores de quatro cilindros em linha. Produz 64
cavalos de potência máxima a 8.000 rpm e 6,2 kgf.m de torque máximo a 6.800
rpm.
Não são números que impressionam na ficha técnica, porém são suficientes
para a proposta da Versys. Sem falar que a entrega da potência e do torque são
bastante amigáveis para pilotos menos experientes. Afinal grande parte do
torque aparece a partir dos 2.000 rpm e já é suficiente para levantar a roda
dianteira do chão, principalmente na curta primeira marcha do câmbio de seis
velocidades.
O motor também tem um caráter divertido nas acelerações de 0 a 100 km/h . Os giros e a
velocidade sobem rapidamente e garantem uma pilotagem prazerosa. Mas arrancadas
fortes cobram o preço no consumo: rodamos em média 19 km/ por litro.
Velocidade final e altos giros não são os pontos fortes do bicilíndrico,
já que acima de 150 km/h
e depois das 7.000 rpm o motor fica um pouco mais “xoxo”. Mas nada que
atrapalhe rodar com a Versys na estrada a 120 km/h com o conta-giros
nas 5.000 rotações e com bastante força para ultrapassagens.
Ciclística
Assim como seu motor, a ciclística da Versys foi adaptada a sua proposta
multiuso. Seu quadro tubular em aço do tipo diamante traz um conjunto de
suspensões de longo curso. Na dianteira, o garfo telescópico invertido oferece
ajustes e 150 mm
de curso. Já na traseira, a balança assimétrica conta com um amortecedor
posicionado na lateral direita da moto que tem 145 mm de curso. Especificações
suficientes para enfrentar os obstáculos do dia-a-dia, como valetas, lombadas e
buracos. Porém um pouco bruscas, caso o piloto resolva pega uma estrada de
terra com muitas imperfeições.
As duas rodas de 17
polegadas são de liga-leve e calçadas com pneus de perfil
esportivo (nas medidas 120/70 na frente e 160/60 atrás). Revelam outra faceta
da Versys: sua aptidão para contornar curvas com agilidade e rapidez. Apesar de
ser uma moto alta, essa Kawasaki gosta bastante de uma estrada sinuosa. Outro
benefício das rodas menores que nas trails é sua agilidade em meio ao trânsito
urbano. Muda de direção com uma facilidade que nos faz esquecer os 209 kg do peso em ordem de
marcha desta versão equipada com sistema de freios ABS.
Os dois discos dianteiros em forma de pétala têm 300 mm de diâmetro e são
dignos de motos mais esportivas. Garantem uma frenagem segura com suas pinças
de duplo pistão, porém se acionados com força fazem a Versys “mergulhar”
demais, o que pode assustar no início. Na traseira, o disco simples de 220 mm de diâmetro mordido
por uma pinça simples cumpre sua função.
Tive a oportunidade de testá-los de verdade, quando um imprudente taxista
desrespeitou a placa de “PARE” em um cruzamento. Um teste de fogo ainda mais
durante a chuvosa semana na capital paulista. Para minha sorte, se é que se
pode chamar de sorte tal situação, a unidade testada trazia o sistema
anti-travamento (ABS). Não tão moderno como outros sistemas, mas ao menos
garantiu a minha integridade física e o perfeito estado de conservação da nova
Versys. Evitou a perda de controle da moto ao frear bruscamente no piso
molhado. Aqui fica a dica para os prepotentes de plantão: os freios ABS servem
justamente para situações de emergência como essa.
Moto faz tudo
Justificando seu nome, derivado das palavras “versátil” e “sistema” (versatile e system, em inglês), a Versys é o tipo de moto que faz praticamente
tudo que você precisa. Serve muito bem como um veículo de locomoção no
dia-a-dia, assim como pode acompanhá-lo em viagens mais longas. Já que sua
ciclística faz dela uma moto ágil na cidade, e seu banco largo e a posição
ereta a deixam confortável na estrada. Sua autonomia também contribui para
longos trajetos: com tanque de 19 litros pode rodar mais de 350 km .
Oferece conforto para rodovias largas e retas, pois traz ainda uma bolha
protetora ajustável; assim como ousadia para as estradinhas secundárias de uma
serra sinuosa, afinal o conjunto de suspensões, rodas e pneus gostam bastante
de deitar nas curvas.
Só não espere que ela enfrente uma esburacada estrada de terra sem
reclamar ou que acompanhe seu amigo de superesportiva 1.000 cc. A nova Versys
pode ser considerada um moto faz tudo, ou quase tudo.
Texto: Arthur Caldeira / Agência INFOMOTO
Fotos: Gustavo Epifanio/ Agência INFOMOTO
Ficha Técnica
Kawasaki Versys (ABS)
Motor Dois cilindros paralelos, quatro válvulas por cilindro, duplo
comando de válvulas no cabeçote e refrigeração a ar
Capacidade cúbica 649 cm³
Diâmetro x curso 83,0 x 60,0 mm
Taxa de compressão 10,6:1
Potência máxima 64 cv a 8.000 rpm
Torque máximo 6,2
kgf.m a 6.800 rpm
Câmbio Seis marchas
Transmissão final Corrente
Alimentação Injeção eletrônica
Partida Elétrica
Quadro Diamante em tubos de aço
Suspensão dianteira Garfo telescópico invertido de 41 mm de diâmetro ajustável –
com 150 mm
de curso
Suspensão traseira Balança traseira monoamortecida regulável na précarga e
retorno com 145 mm
de curso
Freio dianteiro Disco duplo de 300
mm de diâmetro em forma de pétala com pinça de dois pistões
Freio traseiro Disco simples de 220 mm de diâmetro com pinça de um pistão
Pneus 120/70-ZR17 (diant.)/ 160/60-ZR17 (tras.)
Comprimento 2.125
mm
Largura 840
mm
Altura 1.330
mm
Distância entre-eixos 1.415
mm
Distância do solo 180
mm
Altura do assento 845
mm
Peso em ordem de marcha 209
kg
Tanque de combustível 19
litros
* Neste teste foi usado capacete LS2 FF369 Delta
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